segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Grão a Grão...

27 de Setembro de 2010


Ouve-se com frequência, de gente com responsabilidades, que determinados cortes nas despesas deste ou aquele sector público não são relevantes, já que pouco representariam no combate ao défice. Alegam eles que isso só é possível com profundas e grandes alterações.
Não ignoro que são necessárias medidas estruturais, mas desconfio que a argumentação de quem minimiza ou ridiculariza as pequenas poupanças, revela receio de que lhes possam mexer nos seus privilégios pessoais.
Grão a grão enche a galinha o papo, diz o povo com razão. Pois também a soma das pequenas poupanças acabará por ter grande influência no combate ao défice; mas, mesmo que insuficiente, só o facto de se moralizarem gastos luxuosos de uns tantos (utilização de viaturas do Estado, cartões de crédito e muitos outros privilégios de que apenas suspeitamos) será uma medida exemplar absolutamente necessária, particularmente numa altura em que estão a ser pedidos sacrifícios a quem já pouco pode dar.
Reconheço que a situação está difícil, mas precisamente por isso é que o Governo, este ou outro, deve ser rigoroso e justo na exigência dos esforços pedidos aos cidadãos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ainda a Fome

22 de Setembro de 2010


Não é a primeira, nem será a última vez que escrevo sobre este flagelo da humanidade.
Ainda que muitos de nós não soframos esta tragédia, de modo algum nos podemos resignar comodamente com a fome dos outros.
Há 10 anos foi aceite por 189 Estados membros da ONU que até 2010 seria erradicada a pobreza e a fome.
A realidade é cruel: de acordo com estimativas reveladas já este mês, morre uma criança em cada seis segundos por problemas de subnutrição; ainda existem 925 milhões de pessoas a sofrer de fome crónica; a maioria dos subalimentados sobrevive com pouco mais de 50 cêntimos por dia!
E não se pense que isto acontece apenas na Etiópia, Índia, Paquistão ou outros países normalmente referidos e onde na realidade este flagelo é mais gritante. Nos chamados países desenvolvidos há ainda mais de 19 milhões de pessoas subnutridas.
Mais que as declarações de boas intenções, exige-se dos países, coordenados pela ONU, medidas concretas, corajosas e verdadeiramente solidárias.
Sabe-se que países e investidores poderosos estão a comprar ou alugar solos agrícolas em países menos desenvolvidos para garantirem a sua própria segurança alimentar. Acontece que estes negócios estão a ser feitos com total desprezo pelas populações locais, chegando mesmo ao ponto de as expulsar e privar dos seus já escassos recursos.
Não é assim que se combate a pobreza e se acaba com a fome; pelo contrário, agrava-se a situação dos já desfavorecidos.
Sendo este um problema global, exige uma nova ordem mundial solidária.
Só assim poderemos alcançar estabilidade social.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Para Bem das Crianças

13 de Setembro de 2010


A baixa natalidade e o despovoamento têm levado ao fecho de muitas escolas.
É compreensível o desagrado das populações afectadas.
No entanto, perante a realidade e tendo como primeira preocupação o interesse das crianças, o reordenamento escolar não só se justifica como é uma exigência.
Não é possível implementar em escolas com muito poucos alunos os meios e métodos pedagógicos a que todas as crianças têm direito e que devemos exigir para todas as escolas em actividade.
No contexto actual, mais do que manter lutas quixotescas ou bairristas, que apenas prejudicam as crianças, importa exigir aos governantes que se empenhem em garantir as melhores condições de educação a todas as crianças por igual.
O despovoamento combate-se com políticas de desenvolvimento sustentável que permitam a permanência e atraiam pessoas a regiões até agora esquecidas e desprezadas, nunca à custa das crianças.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cultura

9 de Setembro de 2010


A pensar apenas no sucesso económico arriscamos o futuro.
Preocupados com o bem-estar material esquecemo-nos de outras faculdades que são a essência do ser humano. Destas, pretendo destacar os valores culturais.
Não somos meras máquinas, ainda que qualificadas, orientados por uma lógica utilitarista. Pelo contrário, somos dotados de faculdades emotivas que permitem fazer de nós cidadãos comprometidos.
Dizia Sócrates, o filósofo:”Uma vida que não se questiona não vale a pena ser vivida”.
É preciso que às questões económicas se sobreponha este ideal socrático.
A sensibilização, ensino e prática da cultura, são essenciais para formar e manter cidadãos informados e independentes. Quem despreza ou minimiza a cultura não quer, porque teme, cidadãos com capacidade crítica.
Em Portugal, a cultura sempre foi marginalizada.Agora, a pretexto da crise, ainda o é mais.
A verdade é que, enquanto não se considerar este valor como um bem essencial, seremos sempre um país subdesenvolvido.

domingo, 5 de setembro de 2010

Abandono

5 de Setembro de 2010


Foi notícia que, em pleno centro de Paris, foi encontrado o cadáver dum português morto já há dois anos.
Há semanas, o semanário Expresso informava que “os cadáveres não reclamados em Lisboa são cada vez mais de idosos que morrem sós. Ficam meses na morgue até a que a Misericórdia os sepulte”.
Que mundo é este?
A par de campanhas de solidariedade com notoriedade mediática, persistem tragédias surdas de isolamento e abandono; seguramente associadas à pobreza, mas sobretudo à indiferença e egoísmo da sociedade.
É nos grandes centros que esta realidade é mais frequente.
Felizmente, ainda é possível confirmar hoje o que Miguel Torga dizia em 1958, a propósito duma sua passagem pelo Salgueiral, aldeia do concelho de Arganil:”são muito pobres estas nossas aldeias sertanejas…Mas gozam dum bem que nenhuma riqueza compra: a de serem imunes à solidão. Apesar de viverem desterradas do mundo, e fazerem parte de uma pátria de desterrados, dentro dos seus muros reina o convívio.”
As aldeias vão ficando cada vez mais despovoadas, mas, uma coisa é segura: aqui, ainda ninguém morre abandonado