quinta-feira, 30 de abril de 2009

ASSOCIATIVISMO

30 de Abril de 2009



A democracia, na sua essência, é o governo do povo pelo povo. Foi assim que, com Platão, na Grécia Antiga, o conceito se desenvolveu.
Com o tempo tornou-se impraticável "todos decidirem acerca de todos". Depois de várias vicissitudes, chegou-se àquilo que denominamos democracia representativa. Seria um sistema adequado, caso os representantes eleitos estivessem à altura das suas responsabilidades; infelizmente quase nunca acontece.
O povo vota nos seus representantes, acreditando nas suas promessas, mas, quando eleitos, facilmente as esquecem. Isto tem contribuído para algum descrédito, que só pode ser contrariado através de maior e melhor participação cívica.
Daí que eu pense que os cidadãos não podem limitar-se a colocar o voto na urna; têm que permanecer vigilantes e activos.
Sem pôr em causa a legitimidade dos eleitos, a intervenção dos cidadãos reforça a qualidade da democracia, direi mesmo, completa-a .
Por ser assim, qualquer governo democrático tem o dever de incentivar essa colaboração. A melhor maneira de cada um de nós o fazer é através do Associativismo. Juntos em organizações, as mais diversas, os cidadãos podem debater as questões que lhes dizem respeito e que só eles conhecem bem.
Mesmo tendo consciência de que algumas vezes haverá tendência para se concentrarem em excesso no seu umbigo, vale a pena estimular e ouvir as associações, porque, havendo bom senso, é sempre a comunidade que fica mais rica.
A nossa região tem forte tradição de movimentos locais e regionais a quem alguém já chamou democracia associativa.
O Dia do Associativismo que hoje se comemora é bom pretexto para que os órgãos de poder reflictam na sua relação com estas associações, mas também para que muitas destas repensem a sua forma de participar.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

25 DE ABRIL

23 de Abril de 2009



Quem me vem acompanhando nestes escritos semanais estranharia se não me referisse ao 25 de Abril de 74, cujo aniversário se festeja no próximo sábado.
Para quem viveu no tempo em que não era possível exprimir livremente opiniões; em que o medo era uma constante e a maioria das famílias sofria as consequências duma guerra colonial já sem qualquer sentido, a Revolução de Abril foi, antes de mais, motivo de grande alegria.
Mas foi-o também de esperança num futuro mais justo para todos os portugueses.
E se é verdade que, decorridos 35 anos, o saldo é extremamente positivo, reconheço que muitas expectativas e promessas foram-se perdendo com o tempo.
Daí que qualquer tipo de comemoração ou festejo desta data só faça sentido se nos fizer pensar e agir para concretizar ou melhorar as promessas anunciadas nesse Abril de 74.
O programa sintetizava-se nos chamados três D’s: Democracia, Descolonização e Desenvolvimento.
Resolvido o problema da Descolonização, ainda faz sentido (cada vez mais, aliás) lutar por uma Democracia melhor e por um Desenvolvimento justo e sustentável.
Melhor Democracia pressupõe mais participação, mais verdade e ética; Desenvolvimento exige mais justiça e menos desigualdade social.
A melhor homenagem a quem sonhou e lutou para que o 25 de Abril fosse possível é continuar a trabalhar para a concretização dos seus ideais.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

CRISTO RESSUSCITADO

16 de Abril de 2009



Numa freguesia do concelho de Tomar, o pároco mandou substituir as imagens nas capelas e igreja. O que criou mais polémica entre os paroquianos foi a troca das representações de Cristo crucificado pelas de Cristo ressuscitado. Alegava o sacerdote: “a fé baseia-se na ressurreição, não acredito em Cristo morto”.
Decorridos alguns anos, houve consenso e hoje as imagens de Cristo crucificado e de Cristo ressuscitado coabitam no altar da igreja matriz da freguesia. Como então afirmou o Bispo de Santarém, “as duas representações se completam”.
A Igreja Católica sempre se apresentou mais ligada ao Cristo da cruz; daí a associação a uma religião triste, resignada e de sofrimento.
A ideia de que Cristo morreu pelos pecadores e o próprio conceito de pecado foi, e muitas vezes ainda é, predominante na educação católica, provocando sentimentos de culpa e medo.
A verdade é que Cristo morreu na cruz porque era um Homem que sempre agiu segundo a Sua vontade, porque foi revolucionário no seu tempo, com ideias subversivas relativamente aos poderes e costumes da época. Ao contrário de outros, não se refugiou no deserto: ficou e conviveu com o povo. A Sua mensagem nunca foi de medo, de angústia ou culpa. Foi morto, porque foi livre e porque ressuscitou é que O reconhecemos como Filho de Deus.
Daí que eu, como cristão, compreenda melhor a atitude daquele pároco ao preferir as imagens de Cristo Ressuscitado.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

DIA DO COMBATENTE

9 de Abril de 2009



Ainda há quem olhe para os ex-combatentes como responsáveis ou cúmplices das guerras em que foram obrigados a participar.
Tal sentimento gera revolta, particularmente naqueles que foram mobilizados para o então chamado ultramar português e também nas respectivas famílias que os esperavam angustiadas.
Pouco importa agora saber das convicções dos combatentes de então. Acredito que a esmagadora maioria não tinha sequer consciência das motivações de tais guerras: partiam porque a isso eram obrigados.
Fosse como fosse, combateram em obediência e defesa de valores da sua pátria e nunca por interesses individuais.
Só por isso merecem a compreensão e reconhecimento dos compatriotas e justificam que lhes seja prestada justiça.
Conheço e tenho notícia de muitos que perderam a vida, mas de muitos mais que, embora tenham sobrevivido, foram gravemente afectados tanto física como psicologicamente. É particularmente para estes e famílias que se exige seja feita justiça. O Estado não estará de boa consciência enquanto não o fizer.
As várias associações ou núcleos de combatentes que existem por todo o país, sendo úteis e necessárias para manter unidos e solidários os combatentes, não podem, nem têm por missão substituir-se à responsabilidade dos governos.

PS- Foi a 9 de Abril de 1918 que em França, na Batalha de La Lys, as tropas portuguesas sofreram o maior desastre, depois de Alcácer-Quibir: aí morreram mais de 7.500 homens. Já então Jaime Cortesão, médico nas trincheiras, denunciava: …pois se em Portugal não mandam reforços e nos esquecem…

quinta-feira, 2 de abril de 2009

MELHOR JUSTIÇA

2 de Abril de 2009



É cada vez mais frequente ouvir queixas e criticas acerca da morosidade dos tribunais. Processos, particularmente os que envolvem figuras mediáticas, arrastam-se anos e anos em audições e recursos.
Quando algum destes chega ao fim, muitos de nós já nem nos lembramos do que estava em causa quando tudo começou. Fácil é entender que, sempre que isto acontece, já se perdeu parte do efeito da justiça na opinião pública.
Os julgamentos, para além de fazerem justiça, têm que ser rápidos e transparentes.
Em Portugal há casos que demoram vinte e mais anos nos tribunais. Tal morosidade só pode interessar aos verdadeiros culpados e, eventualmente, a alguns advogados; para as vítimas e para o país é injusto e dispendioso.
Não colhe argumentar com a complexidade para justificar tamanha demora.
Nos Estados Unidos da América está a decorrer o processo relativo ao escândalo Madoff que, como sabemos, esteve na origem da presente crise financeira.
Apesar de envolver biliões de dólares e inúmeras instituições, decorridos três meses do seu inicio já se aponta para que o julgamento seja em Julho próximo; por cá, andamos há anos a ouvir falar do processo da Casa Pia; temos os casos de bancos e banqueiros e muitos outros, sem que se preveja desfechos para breve.
Sejam quais forem as razões pelas quais o sistema judicial em Portugal não funciona, a democracia não resiste ao seu descrédito.
Quando as pessoas deixam de acreditar na justiça, estão abertas as portas aos ajustes de contas directo e facilita-se a tentação de fazer justiça pelas próprias mãos. Sempre que isto acontece, voltamos à barbárie.
É urgente legislar para que tenhamos um sistema judicial expedito, acessível e justo.